sexta-feira, 13 de março de 2015

A PRÁTICA EDIONDA DO CABRESTO




                                         A  PRÁTICA EDIONDA  DO CABRESTO                  
                Sou Professor da Rede Pública estadual, concursado desde 1992, posso até dizer que tive um pouco de sorte pelo fato de o Governo do estado ter efetuado aquele concurso no qual fui aprovado, e não posso deixar de lamentar  o fato de que os concursos  para preenchimento das funções no serviço  público são tão demorados.  Os governos levam anos e anos para promover concursos, e levam outros incontáveis anos para irem lentamente preenchendo as vagas e nesse interim, escolas ficam sem professores, hospitais e postos ficam sem médicos, enfermeiros, dentistas e outros.
                               O mais lamentável de tudo isso,  é que as vagas  no serviço público acabam virando objeto de barganha entre os que estão no poder, daí o desinteresse total em realizar concursos e então reina a famigerada contratação, muitas delas por tempo determinado, a qual muita gente mesmo com formação superior, especialização ou mestrado e até mesmo doutorado, tem que e submeter _ É pegar ou ficar sem trabalho _ em virtude de não se ter perspectiva de concurso público tão cedo _ É isso mesmo  e nem se tem para quem recorrer, uma vez que os órgãos de justiça que deveriam  obrigar as prefeituras e o próprio estado a fazer concursos,  ao que parece estão ocupadíssimos com  outras coisas e deixam isso pra lá.
                               Enquanto isso, já que estão livres e isentos de incômodos por parte da justiça, os governantes vão levando em frente a prática do neo-coronelismo,  aplicado ao serviço público,  principalmente na Educação, onde fazem o que querem. Há casos de prefeituras como a de Marituba,  por exemplo em que menos de 20% daqueles que trabalham na Educação entraram por concurso público. E a  grande maioria é composta de contratados que recebem  salários ínfimos sem gratificação de titularidade, sem gratificação de função, sem plano de saúde, mal ganham pelas aulas dadas  e quando são dispensados,  às vezes, só ficam sabendo um, dois ou mais meses, saindo  sem lhes seja  pago nem mesmo os meses que trabalhou sem saber que já havia sido dispensado desrespeitosamente.
                               É esse o sistema público de Educação na maioria dos municípios. E nem se pode dizer que a justiça não sabe. Mas  como é a prática no Brasil, a justiça só age se for provocada e por isso mesmo as coisas vão de mal a pior, por que,  qual é o professor que vai querer denunciar ou “provocar a justiça”, em Marituba, por exemplo,  se ele  depende daquele  injusto salário e sabe que se for descoberto como denunciante logo será demitido.  E assim sendo, os prefeitos os vereadores e outros, vão se dando muito bem a custa da exploração do trabalho,   principalmente dos professores e de outros que atuam nas escolas.  Longe de mim,   querer ofender  aqueles que tem a mesma profissão que eu tenho, meus colegas professores., mas é inevitável dizer que essa forma vil de se administrar  os municípios  é muito semelhante aquela velha pratica dos coronéis  que traziam no cabresto todos aqueles que de uma forma ou de outra dependiam deles e com os votos dos quais  os coronéis eram eleitos ou elegiam aqueles que lhes interessavam estar no poder.
                               Infelizmente é essa a prática macula o serviço público, principalmente a Educação nos municípios. Os prefeitos se elegem, prometem concurso público, mas suas intenções são outras, porque bem sabem que um indivíduo concursado, cumprindo suas obrigações de forma lícita, dificilmente dependerá de se submeter a essa situação humilhante, ultrajante como se submetem os professores e demais contratados do serviço público de inúmeros municípios dentre os quais eu destaco Marituba, onde essa situação é frequente.
                               Submissão, cabresto, necessidade, muitos dos que estão no poder nem se dão conta da dimensão ideológica dessas palavras. Só sabem eles que estão no poder de onde não querem sair por nada e tudo fazem para ali se manter. Fingem ignorar as condições de trabalho nas escolas, ignoram os anseios dos professores que recebem salários abaixo do Piso Nacional. O que vale para eles é manter essa situação de cabrestamento que eles impõem aos que se sujeitam, por necessidade, a ocupar temporariamente as vagas no serviço público, destacando aqui, a Educação.  E diga-se,  de passagem,  não é  qualquer um que consegue ser contratado mesmo havendo necessidade de mão de obra e muitas escolas com falta de professores.
Cerca de 90 % dos contratados principalmente na Educação,  só conseguem prestar serviço às prefeituras por terem um vínculo de indicação de um vereador, de um secretário, ou mesmo proximidade  com os prefeitos. Os demais, raramente conseguem,   pois os prefeitos nem os vereadores não querem correr o risco de perder um voto sequer. E aí está o cabresto.  E concurso público aterroriza  prefeitos e vereadores, principalmente.   Esses então, se sentem muito incomodados quando se fala em concurso público, e nem cogitam em fazer um reles requerimento solicitando ao prefeito que faça um concurso público. Mesmo porque os vereadores, em suas práticas, neocolonialista, são como que donos das vagas, indicam e  mandam tocar (dispensar) de acordo com seus interesses, numa prática de cotas,  forma como a maioria dos prefeitos costuma fatiar as vagas do serviço público entre os vereadores. Muitos  tem em escolas verdadeiros batalhões de indicados como se aquela escola fosse um verdadeiro curral eleitoral. Deste modo o prefeito fatia as vagas principalmente na Educação onde o vereador Fulano indica 200, o vereador Beltrano indica 150, o vereador Sicrano indica 100 e assim vai se arrebanhando os professores, os serventes, o pessoal de secretaria e outros mais... Nem importa a qualidade do serviço, o que importa para eles é o voto garantido no cabresto da contratação ainda que temporária.  
                Realmente é uma forma abominável de se reger um município, usurpando direitos e tratando o serviço público como verdadeiros feudos, onde   os vereadores detém o comando indicando junto com o prefeito e é muito cômodo manter sob o seu julgo, no cabresto os contratados que dependentes desta contratação para poderem garantir sua sobrevivência.
                                                                                             Professor Francisco Poeta







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