O ROMANCE E A NOVELA
(Por Orlando Tadeu Ataíde Leite)
Pois bem, vamos lá.
Diferentemente do
conto e da crônica o romance e a novela são narrativas mais longas e densas,
especialmente o romance, considerado a "prima-dona" das narrativas
literárias. A novela, por sua vez, funciona como um meio-termo entre o próprio
romance e o conto, sendo, digamos, um gênero mais extenso que o conto e menos
que o romance, algo se aproximando de duzentas páginas.
Na novela,
fundamentalmente, o que funciona são os eventos, os episódios, as
"fofocas" de rua ou entre vizinhos, os "causos", ou seja,
tudo aquilo que envolve diretamente as personagens, seus movimentos dentro do
contexto estabelecido pelo roteiro, tudo para gerar aquele clima de tensão e de
expectativa no leitor ou no espectador, que, ansioso e atento, espera pelo
próximo capítulo. Interessante observar que o termo "novela" remete
sempre à televisão, às famosas "telenovelas", tão apreciadas no país.
O texto "O alienista", de Machado de
Assis, por exemplo, transita entre os conceitos de novela e conto, em que uma
personagem que considera todo mundo louco acaba por se trancar no hospício por
acabar descobrindo-se como o "louco-mor", o que nos leva a perceber a
essência da novela, ou seja, o evento tópico, local, até mesmo recheado de
humor, que "carrega" o enredo.
O romance, por
sua vez, além de muito mais extenso, traz consigo uma densidade que vai além do
simples evento ou fato, abordando aspectos da psicologia das personagens e de
suas relações sociais, estabelecendo verdadeiras "teses" a serem
"desvendadas" pelo leitor, espécie de "rato de laboratório"
do romancista, como ocorre na famosa trilogia de Machado de Assis,
especialmente no genial "Memórias póstumas de Brás Cubas", ou no não
menos genial "Dom Casmurro", quando o autor deixa para o leitor a
missão ingrata de desvendar o mistério da traição ou não da pobre Capitu.
No romance, tudo
é grandioso, desde as descrições de cenários, de cenas de referências espaciais e temporais, até mesmo de
estratégias de retornos e de avanços no decorrer da narrativa. No famoso
romance "Dona Flor e seus dois maridos", de Jorge Amado, denso e
longo, a história do pândego Vadinho e da "recatada" Dona Flor inicia
justamente pelo "fim", com a morte abrupta do protagonista em um
divertido desfile de carnaval de rua, sendo, a partir daí, contada desde o
"começo", quando a protagonista fica dividida entre um amor
"desvairado e divertido" e outro "recatado, seguro e
sereno", abordagem psicológica sempre tão recorrente e atual.
Portanto,
percebe-se o "genoma" do gênero romance gravado nessa perspectiva de
análise social a partir de um contexto de tempo, espaço e de análise
psicológica profunda e densa das personagens envolvidas na história, como
também ocorre com o famoso, "Vidas secas", de Graciliano Ramos,
também transitando entre novela e romance, quando o leitor entra em contado
quase que direto com a árida e selvagem paisagem do Sertão, que oprime almas e
desenha o comportamento, também "árido e selvagem", do protagonista
Fabiano e de sua família, todos "moldados" à feição do sofrimento
como vítimas das secas nordestinas, retirantes perdidos e sem rumo.
Então é isso. Espero ter contribuído
Orlando Tadeu Ataíde Leite
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