TEORIA LITERÁRIA APLICADA DIFERENÇAS ENTRE CRÔNICA E
CONTO (Por Orlando Tadeu Ataíde
Leite)
Muitos se perguntam se os gêneros literários "crônica" e
"conto" são a mesma coisa ou se são diferentes. Essa dúvida parece
resultar do fato de que essas são modalidades literárias geralmente curtas e
lidas de "um fôlego só". Há, por exemplo, contos de uma página só,
embora haja outros, como "O alienista", de Machado de Assis, com
100 páginas! Há, ainda, outras semelhanças entre "crônica" e
"conto", como o número reduzido de personagens e de núcleos
narrativos.
Mas o elemento principal que separa os dois tipos de narração é quanto
à natureza da abordagem. Veja: eu estou querendo produzir um
"conto" sobre, por exemplo, um fato ocorrido com um tio meu que
mora no interior. Ele sempre gostou de desenhar e de construir barcos, e, mesmo sem ter grandes conhecimentos de
engenharia náutica, fazia tudo a partir das experiências empíricas que
realizava.
O que faço? Vou construindo, passo a passo, minha narrativa, pensando
como meu tio era, como se comportava, como vivia. Penso na cidadezinha onde
morava, na sua família, nos amigos. A partir daí, já tenho elementos
suficientes para criar a minha história. Procuro um título, e vou
desenvolvendo meu trabalho, começando com o cenário, apresentando possíveis
personagens, focando no enredo, com o protagonista construindo seu barco e
fazendo muitas viagens, ficando famoso com sua genialidade.
Dá para perceber que houve todo um trabalho, um arcabouço, uma
elaboração mental para a elaboração do conto, aqui produzido a partir de um
processo ficcional focando uma realidade que o narrador conhece. Já na elaboração da
"crônica", o processo é mais simples e dinâmico, pois nasce a
partir de "flashes", de "frames" do cotidiano, a partir
daquelas situações tão comuns que presenciamos todos os dias em casa, no
trabalho, nas ruas, enfim, nessa interação vivencial de todos os dias. A
diferença é que simples fatos ou ocorrências tornam-se "picos de
inspiração" para o escritor, que cria o texto a partir do momento, sem
muita elaboração ou planejamento.
Vou pela rua e vejo uma senhora descascando uma banana e dando para um
macaquinho em um zoológico. O cidadão comum não vê nada de especial nisso.
Mas o cronista não deixou de perceber o olhar de satisfação da senhora e o de
agradecimento do pequeno animal. Aí, nesse momento sublime da criação
estética, nasce a crônica!!
Orlando Tadeu Ataíde Leite |
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